Hoje você ainda dormia quando acordei. Aos poucos, saindo do sono, senti sua respiração leve. E, através dos cabelos que escondiam seu rosto, vi seus olhos fechados e senti que a emoção me subia à garganta. Tinha vontade de gritar e acordar você, porque o seu cansaço era profundo e mortal demais. Na penumbra, a pele dos seus braços e colo estava viva. Eu a sentia morna e seca. Queria passar nela os meus lábios, mas a ideia de perturbar o seu sono e de tê-lo acordado em meus braços me detinha.
Preferia tê-lo assim, como algo que ninguém poderia me tirar porque só eu possuia. Uma imagem eterna. Além do seu rosto, eu via algo mais puro e profundo no qual me espelhava. Eu via você, numa dimensão que englobava todo o meu porvir, todos os anos futuros e os que vivi antes de conhecer você, mas já pronta para encontrá-lo. Esse era o pequeno milagre do despertar: sentir pela primeira vez que você me pertencia não apenas naquele momento e que a noite se prolongava para sempre ao seu lado, no calor do seu sangue, dos pensamentos, da vontade, que se confundiam com a minha...