segunda-feira, maio 31, 2010

O caso do anão (parte I)

"(...) Ela me deu uma pastilha de hortelã e deitou-se, vestida em sua apertada calça jeans que parecia uma armadura de ferro. Eu disse 'tira a calça' e acrescentei quando vi que ela permanecia imóvel 'tira a calça, meu amor'. Ela olhou para o espelho do teto e, lentamente, com gestos estudados, foi tirando a calça pelos pés e não pela cintura, como faria uma mulher menos atlética. Então surgiram, refletidas no espelho do teto, as coxas fenomenais, chocantes, se é que eu, um anão velho, posso falar assim, como um surfista. Passei a mão de leve sobre aquela inacabável pele, morna, suave. Ela abriu as pernas, supina e imperativa, e disse 'vem', segurando meu pau com força e introduzindo-o na sua vagina. Então foi novamente aquela combinação de êxtase e horror. Apesar disso, ou por isso, demorei muito a gozar. Mas mesmo assim ela continuava querendo mais. Porém, retirei meu pobre esfolado pau, enorme como o de todo anão, modéstia à parte, daquela gruta e meti meu dedo médio, que não é médio, é grande." Nariz de Ferro mostrou a mão espalmada para Lima Prado. "As descobertas são por acaso? Nunca são por acaso, Cabral sabia muito bem aonde ia. A gente sempre quer descobrir alguma coisa e afinal descobri, depois de muitos dias, naquele dia, quando enfiei o dedo naquele canal viscoso e ardente, que mais parecia uma máquina rudimentar de moer carne, naquele dia descobri algo espantoso. Era a vagina dentata, dos antigos, que sempre pensei ser uma ficção literária ou uma invenção dos arquitetos da repressão sexual, mas que estava ali, à minha mão, roendo meu dedo depois de ter devorado meu pau." Continua

(Trecho do livro A Grande Arte de Rubem Fonseca)

domingo, maio 30, 2010

Não me fale de paz


se a violência começa no seu prato.
(Boji Greenwitch)

terça-feira, maio 25, 2010

Serra da Boa Esperança

Composição: Lamartine Babo

Serra da Boa Esperança, esperança que encerra
No coração do Brasil um punhado de terra
No coração de quem vai, no coração de quem vem
Serra da Boa Esperança meu último bem
Parto levando saudades, saudades deixando
Murchas caídas na serra lá perto de Deus
Oh minha serra eis a hora do adeus vou me embora
Deixo a luz do olhar no teu luar
Adeus
Levo na minha cantiga a imagem da serra
Sei que Jesus não castiga o poeta que erra
Nós os poetas erramos, porque rimamos também
Os nossos olhos nos olhos de alguém que não vem
Serra da Boa Esperança não tenhas receio
Hei de guardar tua imagem com a graça de Deus
Oh minha serra eis a hora do adeus vou me embora
Deixo a luz do olhar no teu luar
Adeus


domingo, maio 23, 2010

Poesia de Álvaro de Campos

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.

Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?


sábado, maio 22, 2010

Open your eyes

Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda. (Carl Jung)

sexta-feira, maio 21, 2010

Banca da esquina

Do jornal e suas tintas,
das entrelinhas da revista,
quem sabe?

Vai ver,
a moça pelada na capa
é anjo.

Vai ver,
o bandido da Baixada
é santo.

Beatriz Escorcio Chacon

quinta-feira, maio 20, 2010

quarta-feira, maio 19, 2010

Enjoy yourself

É estranho pensar na vida como algo passageiro, tipo, ok, bem, hoje estou aqui com você e amanhã posso não estar. Quem garante? Não há garantias. Tudo o que se tem é o agora, o momento em que se vive... Porque o passado já passou e o futuro, quem sabe... O resto é história...

domingo, maio 16, 2010

Exausto - Adélia Prado

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

sábado, maio 15, 2010

Gilda



Não há mulher como Gilda

sexta-feira, maio 14, 2010

Casa no Campo

Composição: Zé Rodrix e Tavito

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais


quinta-feira, maio 13, 2010

Por Eduardo Galeano

Em reportagem na Revista Fórum (www.revistaforum.com.br)


"A saúde do mundo está feito um caco. ‘Somos todos responsáveis’, clamam as vozes do alarme universal, e a generalização absolve: se somos todos responsáveis, ninguém é. Como coelhos, reproduzem-se os novos tecnocratas do meio ambiente. É a maior taxa de natalidade do mundo: os experts geram experts e mais experts que se ocupam de envolver o tema com o papel celofane da ambiguidade.

Eles fabricam a brumosa linguagem das exortações ao ‘sacrifício de todos’ nas declarações dos governos e nos solenes acordos internacionais que ninguém cumpre. Estas cataratas de palavras - inundação que ameaça se converter em uma catástrofe ecológica comparável ao buraco na camada de ozônio - não se desencadeiam gratuitamente. A linguagem oficial asfixia a realidade para outorgar impunidade à sociedade de consumo, que é imposta como modelo em nome do desenvolvimento, e às grandes empresas que tiram proveito dele. Mas, as estatísticas confessam.. Os dados ocultos sob o palavreado revelam que 20% da humanidade comete 80% das agressões contra a natureza, crime que os assassinos chamam de suicídio, e é a humanidade inteira que paga as consequências da degradação da terra, da intoxicação do ar, do envenenamento da água, do enlouquecimento do clima e da dilapidação dos recursos naturais não-renováveis. A senhora Harlem Bruntland, que encabeça o governo da Noruega, comprovou recentemente que, se os 7 bilhões de habitantes do planeta consumissem o mesmo que os países desenvolvidos do Ocidente, "faltariam 10 planetas como o nosso para satisfazerem todas as suas necessidades." Uma experiência impossível.

Mas, os governantes dos países do Sul que prometem o ingresso no Primeiro Mundo, mágico passaporte que nos fará, a todos, ricos e felizes, não deveriam ser só processados por calote. Não estão só pegando em nosso pé, não: esses governantes estão, além disso, cometendo o delito de apologia do crime. Porque este sistema de vida que se oferece como paraíso, fundado na exploração do próximo e na aniquilação da natureza, é o que está fazendo adoecer nosso corpo, está envenenando nossa alma e está deixando-nos sem mundo."

quarta-feira, maio 12, 2010

de Nina


No meu espetáculo é assim: só quem se mostra se encontra, por mais que se perca no caminho. (Cazuza)

quinta-feira, maio 06, 2010

Livre será

"Só peço para ser livre. As borboletas são livres."
(Charles Dickens)



quarta-feira, maio 05, 2010

A gente se perdeu...

A vida nos perdeu...
E o triste é que nós nunca vamos nos achar...
Eu realmente lamento por isso.

segunda-feira, maio 03, 2010

Bukowski

"você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida com
muito pouca
fricção de angústia.

eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.

eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil, normalmente durante o
sono.

você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.

oh não, eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.

mas eles
estão lá ...

e eu estou aqui."