sexta-feira, outubro 29, 2010

A Alma do Vinho - Baudelaire

A alma do vinho assim cantava nas garrafas:
"Homem, ó desherdado amigo, eu te compús,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!

Bem sei quanto custa, na colina incendida,
De causticante sol, de suor e de labor,
Para fazer minha alma e engendrar minha vida;
Mas eu não hei de ser ingrato e corruptor,

Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À guela do homem que já trabalhou demais,
E seu peito abrasante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.

Não ouves retinir a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio, febrís?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz:

Hei de acender-te o olhar da esposa embevecida;
A teu filho farei voltar a força e a cor
E serei para tão tenro atleta da vida
Como o óleo que os tendões enrija ao lutador.

Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia,
Grão precioso que lança o eterno Semeador,
Para que enfim do nosso amor nasça a poesia
Que até Deus subirá como uma rara flor!"

quinta-feira, outubro 28, 2010

terça-feira, outubro 26, 2010

Dois velhinhos

Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo. 
Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora. 
Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. 
Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro: 
— Um cachorro ergue a perninha no poste. 
Mais tarde: 
— Uma menina de vestido branco pulando corda. 
Ou ainda: 
— Agora é um enterro de luxo. 
Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.  
Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro não revelava tudo. 
Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo.

Dalton Trevisan

segunda-feira, outubro 25, 2010

Edward Sharpe & The Magnetic Zeros



La, la, la, la, take me home.
Daddy, I'm coming home.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Cinema Paradiso

Era uma vez um rei que fez uma festa na qual estavam as princesas mais bonitas do reino. Um soldado que estava de guarda viu passar a filha do rei. Era a mais bonita de todas, e ficou logo apaixonado, mas o que podia fazer um pobre soldado em relação à filha do rei? Por fim, um dia conseguiu encontrá-la e disse-lhe que não podia mais viver sem ela. A princesa ficou tão comovida por aquele forte sentimento que disse ao soldado: “Se conseguir esperar 100 dias e 100 noites debaixo da minha janela, acabarei sendo sua”. O soldado foi logo para lá e esperou um dia, dois dias, dez, e depois vinte. E toda a noite, a princesa controlava pela janela, mas ele nunca se movia. Podia chover, ventar, nevar, que ele continuava lá. Os pássaros sujavam a cabeça dele, as abelhas comiam-no vivo, mas ele não se movia. Depois de 90 noites, estava emagrecido, esbranquiçado, as lágrimas lhe caíam rosto abaixo sem poder segurá-las porque nem forças para dormir ele tinha. Entretanto, a princesa ficava olhando para ele. E na 99ª noite, o soldado se levantou, pegou sua cadeira e foi embora.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Mas cá entre nós,

criança é um saco! Haja paciência! Educar é árdua tarefa... O futuro pode até depender delas, mas o presente ao seu lado pode ser bem cansativo. Fica uma família inteira achando graça daquele molequinho sem graça... BLÁH! Cadê meu livro?

desabafo de uma adolescência sem causa

quarta-feira, outubro 20, 2010

segunda-feira, outubro 18, 2010

O Grande Ditador

Desculpe! Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, gentios, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem... Levantou no mundo as muralhas do ódio... E tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... Um apelo à fraternidade universal... À união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... Milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças... Vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... Da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá. Soldados! Não vos entregueis a esses brutais que vos desprezam, que vos escravizam, que arregimentam as vossas vidas, que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... Os que não se fazem amar e os inumanos. Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... De fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... Um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos. Hannah estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

domingo, outubro 17, 2010

Substância

Me refugio nos livros:
eles não me traem.
Sou das esquisitices
de ficar olhando joaninhas
como ponto final.

Um dia meu olho
vira letra
ou grilo
e sai voando.

Escuto a torneira
pingando
pego o som
descrevo a água.

Um copo de palavras
me sustenta.

Haydée S. Hostin Lima

sexta-feira, outubro 15, 2010

"


"Os opostos se distraem, os dispostos se atraem."

quinta-feira, outubro 14, 2010

A Bela e a Fera

"Eu desconfio que a morte vem. Morte?

Será que uma vez os tão longos dias terminem?

Assim devaneio calma, quieta. Será que a morte é um blefe? Um truque da vida? É perseguição?

E assim é.

O dia começara às quatro da manhã, sempre acordara cedo, já encontrando na pequena copa a garrafa térmica cheia de café. Tomou uma xícara morna e lá ia deixá-la para Augusta lavar, quando se lembrou de que a velha Augusta pedira licença por um mês para ver seu filho.

Teve preguiça do longo dia que se seguiria: nenhum compromisso, nenhum dever, nem alegrias nem tristezas."


Clarice Lispector no livro A Bela e a Fera

quinta-feira, outubro 07, 2010

Filosofia de Eric Forman

Essas coisas me fizeram pensar... Porquê estou com pressa de crescer? Sabe, a vida é como um trem. Está vindo em sua direção e adivinhe: vai te atropelar! Você pode correr, mesmo ele ainda estando longe. Ou pode pegar uma cadeira, abrir uma cerveja e ficar observando ele se aproximar.

That 70´s Show

segunda-feira, outubro 04, 2010

domingo, outubro 03, 2010