quarta-feira, abril 27, 2011

Quantos antes de mim?

O casal começa a namorar, a intimidade vai aumentando com o passar dos dias, até que um dos dois resolve fazer aquela pergunta infalível, assim, como quem não quer nada: amor, com quantas pessoas você já transou?
É fria. Não responda. (...)
A verdade é honrosa, mas nem sempre é necessária. A troco de que querem saber com quantas pessoas você transou? (...) Seja qual for sua resposta, você não vai corresponder às expectativas, isso é certo.
(...)
Se você é mulher, a complicação é ainda maior. Por mais moderno que seu namorado aparente ser, no fundo, no fundo, ele espera, sim, que você seja uma santa. Não tolera a ideia de ser comparado com os antecessores. Se você disser a verdade, ele vai dizer: "Ah, 26? Ótimo, adoro mulheres experientes", e sairá da sua casa direto pro bar, em busca de um coma alcoólico. Se você disser que foi só um - e pode muito bem ser verdade -, ele vai pensar que você está de gozação, que foram mais de 300. Uma curiosidade: pesquisas revelam que a maioria das mulheres responde que foram 9. Melhor não entrar na casa dos dois dígitos.
O fato é que ninguém ficará satisfeito com a resposta. Portanto, não pergunte, não responda. Diga que antes de conhecê-lo (a) você não viveu e sugira logo uma meia muzzarela, meia calabresa pra encerrar o assunto.

Martha Medeiros

quinta-feira, abril 21, 2011

Castro Alves


Eu sei como este mundo ri d´escárnio,
Deste aéreo sonhar da fantasia.
Eu sei p´ra cada crença de noss´alma,
Ele tem uma frase de ironia...
Ah! deixai-me guardar o meu segredo:
Deste riso cruel eu tenho medo...
(...)

quarta-feira, abril 20, 2011

A natureza humana

"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Mikail Bakunin

terça-feira, abril 19, 2011

segunda-feira, abril 18, 2011

Meu segredo - Castro Alves

II

Recorda-te do pobre que em silêncio
De ti fez o seu anjo de poesia.
Que tresnoitou cismando em tuas graças,
Que por ti, só por ti, é que vivia.
Que tremia ao roçar de teu vestido,
E que por ti de amor era perdido...

Sagra ao menos uma hora em tua vida
Ao pobre que sagrou-te a vida inteira,
Que em teus olhos, febril e delirante,
Bebeu de amor a inspiração primeira,
Mas que de um desengano teve medo,
E guardou dentro d´alma o seu segredo!

domingo, abril 17, 2011

Eles que não se amavam...

Para mudar o sentido,
para voltar a ser grande,
simples e humano,
para começar a querer bem
necessário era
- mesmo para os que tanto sabem -
aprender a apascentar as ânsias,
a acariciar os ventos, a amar o bisonho,
a brindar a luz, a beijar os dias, a beliscar as tristezas.

Livro Eles que não se amavam, de Celso Sisto

sexta-feira, abril 15, 2011

percepção II

é como você percebe as coisas, como percebe o mundo,
como persegue a vida

sexta-feira, abril 08, 2011

Bom senso

terça-feira, abril 05, 2011

com os bichos comuns

(...)
"Era um canário ordinário, nunca lera Bilac, e parecia feliz em sua gaiola. Nós o amávamos desse amor vagaroso e distraído com que enquadramos um bichinho em nossa órbita afetiva. Creio mesmo que se ama com mais força um animal sem raça, um pássaro comum, um cachorro vira-lata, o gato popular que anda pelos telhados. Com os animais de raça, há um afetação que envenena um pouco o sentimento; com os bichos comuns, pelo contrário, o afeto é de uma gratuidade que nos faz bem."

Um pequeno pedaço da crônica "O canarinho" de Paulo Mendes Campos

domingo, abril 03, 2011

sábado, abril 02, 2011

TV SUCKS

A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
(Apparicio Torelly)

sexta-feira, abril 01, 2011

O amor acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques e ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite voltada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão, como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicáveis entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drink, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; no álcool;  de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba. 

Paulo Mendes Campos