segunda-feira, maio 31, 2010

O caso do anão (parte I)

"(...) Ela me deu uma pastilha de hortelã e deitou-se, vestida em sua apertada calça jeans que parecia uma armadura de ferro. Eu disse 'tira a calça' e acrescentei quando vi que ela permanecia imóvel 'tira a calça, meu amor'. Ela olhou para o espelho do teto e, lentamente, com gestos estudados, foi tirando a calça pelos pés e não pela cintura, como faria uma mulher menos atlética. Então surgiram, refletidas no espelho do teto, as coxas fenomenais, chocantes, se é que eu, um anão velho, posso falar assim, como um surfista. Passei a mão de leve sobre aquela inacabável pele, morna, suave. Ela abriu as pernas, supina e imperativa, e disse 'vem', segurando meu pau com força e introduzindo-o na sua vagina. Então foi novamente aquela combinação de êxtase e horror. Apesar disso, ou por isso, demorei muito a gozar. Mas mesmo assim ela continuava querendo mais. Porém, retirei meu pobre esfolado pau, enorme como o de todo anão, modéstia à parte, daquela gruta e meti meu dedo médio, que não é médio, é grande." Nariz de Ferro mostrou a mão espalmada para Lima Prado. "As descobertas são por acaso? Nunca são por acaso, Cabral sabia muito bem aonde ia. A gente sempre quer descobrir alguma coisa e afinal descobri, depois de muitos dias, naquele dia, quando enfiei o dedo naquele canal viscoso e ardente, que mais parecia uma máquina rudimentar de moer carne, naquele dia descobri algo espantoso. Era a vagina dentata, dos antigos, que sempre pensei ser uma ficção literária ou uma invenção dos arquitetos da repressão sexual, mas que estava ali, à minha mão, roendo meu dedo depois de ter devorado meu pau." Continua

(Trecho do livro A Grande Arte de Rubem Fonseca)