terça-feira, março 13, 2012

Último Poema

Esta noite eu tomaria todas as drogas do mundo,
beberia todos os oceanos
e transaria homens e mulheres
até morrer, dilacerado de dor.

Esta noite eu faria qualquer coisa,
por mais louca e absurda que fosse,
pra não sentir este vazio brochante 
e esta puta angústia, velha e avassaladora.

Eu me converteria e cometeria todos os vícios,
sobretudo os que aprendi no hospício,
e mergulharia fundo na depravação,
igual à que praticávamos na prisão.

Depois poderia morrer, sem pressa nem tristeza,
porque experimentei o inferno e o paraíso
e me redimo em ter feito com o corpo
os mais belos poemas que não ousei compor.

Por fim, me entregaria a deus e ao diabo,
perplexo como o menino que fez arte
e jamais conseguiu ser um artista
ou o artista que esqueceu de ser menino

e de repente descobriu que é tarde.

Caio Trindade

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