terça-feira, novembro 22, 2011

LXXXI - Baudelaire

É impossível percorrer uma gazeta qualquer, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem nela encontrar, a cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as gabolices mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, e as afirmações mais descaradas a respeito do progresso e da civilização.
Os jornais, sem exceção, da primeira à última linha, não passam dum tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.
É com esse repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de cada manhã. Tudo, nesse mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o semblante do homem.
Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de repugnância.

Um comentário:

Nick disse...

Em minha opinião o exagero está mais em quem publica do que nos fatos em si.
A ordem é amedrontar e depois, fazer que se conformem.